Artes plasticas naif sinval medeiros

Retratando são paulo

segunda-feira, 2 de abril de 2012

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Misterios de sao paulo sobrenatural


Ex-morador de rua e salvo por misteriosa voz enquanto dormia na avenida São João. Como a arte é fonte de conhecimento e de transcedência espiritual, durante 45 anos ele se manteve distante dessa simbiose.

Nascido na cidade de Currais Novos / RN, em 5 de dezembro de 1962, Sinval G. Medeiros, 45, jamais teve qualquer tipo de contato com escola de artes plásticas. Estudou até o 2º ano do ensino fundamental e depois de percorrer vários estados, incidentalmente migrou para São Paulo em 1990 e, tinha em mente trabalhar e viver com dignidade. Em meados de 1998 o destino preparou-lhe algumas surpresas entre as quais transformá-lo em morador de rua e alcoolatra. Para sobreviver fazia pequenos trabalhos como por exemplo pagar contas para taxistas e camelôs, e como recompença recebia entre R$ 2 e 3 para manter o vício. Nas ruas ele foi agredido fisicamente e moralmente. Ele ainda se lembra de um aniversário da Cidade de São Paulo quando dormia e foi acordado por um motoqueiro "Acorda, hoje não é dia de dormir até tarde é aniversário da cidade", disse o motoqueiro que em seguida lhe agrediu com chutes. Sinval bebia para tentar esquecer o quanto seria difícil enfrentar mais uma noite na rua, exposto não só às intempéries da natureza mas também a violência humana. Ele fez bom relacionamento com alguns comerciantes da região central da cidade, local onde sempre esteve. Mas os piores dias para Sinval eram os finais de semana quando todos se ausentam daquela região. Restava-lhe então, os companheiros de rua. Sua situação permaneceu assim até quase o final de 2006, quando o destino mais uma vez tramaria algo para Sinval. No mês de outubro de 2006 ele estava embreagado, assume, o relógio marcava mais de duas horas da manhã. Como fazia havia vários anos ele foi em busca de um lugar para dormir. Encontrou uma pequena área verde localizada no início da Avenida São João com a rua Líbero Badaró, bem em frente ao edifício Martinelli. Bêbado e cansado não foi difícil agarrar no sono. Eis que em seguida fora acordado por uma misteriosa voz que dizia "Você não pode dormir aqui. Saia já dai ". - Não amola eu quero apenas dormir aqui, disse Sinval. Foram três as advertências da misteriosa voz; na última ele acordou olhou para os lados e não viu ninguém. Assustado, desceu em disparada e ao parar no meio do Vale do Anhangabaú virou-se e viu uma bela paisagem compostas pelo edifício Altino Arantes e do local onde dormia, cujo local tem formato de urna funerária. "Era como se eu vivesse em completa escuridão e a partir daquele momento tudo clareou em minha vida", diz Sinval que deixou de beber naquele mesmo dia. Abismado com aquela visão ele não teve dúvida e falou consigo: "Vou pintar isso aqui". A partir daí não deixou mais de pintar. "Isso é coisa do outro mundo, só pode ser", questiona Sinval.

Contato com a arte

É só obeservar suas telas e falar com ele para perceber que não tem o aprendizado de técnicas variadas ou manipulação de materiais diversos. Ou seja, contato com repertório da história das artes plásticas e o desenvolvimento de uma linguagem plástica. Isso afirma que, definitivamente Sinval travou contato com a pintura somente após ouvir a misteriosa voz. Não há evidencias de que tenha freqüentado, se quer, uma exposição ou folheado catálogos. O seu estilo primitivo, naif, não tem como se comparar a nenhum dos pintores do gênero como por exemplo Heitor dos Prazeres ou Antônio da Silva, pois ele não tem ninguém como referência artística e não sabe o nome de nenhum pintor. Ficou sabendo que sua pintura é chamada naif porque alguns artistas passaram por ali e lhe disseram.Também ficou sabendo que existem outras técnicas como óleo sobre tela, onde já realizou poucos trabalhos devido os valores dos materias; quer conhecer o surrealismo - o que seria até mais aceitável no caso de sua visão-, entre outras. Se foi herança ou não, quem quer que seja sabe-se que foi muito generoso com Sinval que realiza um trabalho muito autoral, visceral e imprime um colorido surpreendente em suas telas. É detalhista em suas obras como o prédio Martinelli, Viadutos do Chá e de Santa Ifigênia, Prefeitura, Praça da Sé, Mosteiros de São Bento e da Luz, Museu Paulista entre outros. Foi esta a forma de agradecer em pinceladas acrílicas que retratam paisagens e arquitetura de pontos importantes da capital paulistana, que vislumbram os que gostam da boa arte primitiva. Muitos fizeram a fazem este tipo de pintura arquitetônica da cidade, mas uma coisa é certa, Sinval não é apenas mais um a fazer isso. Prognosticar é algo complicado, mas se ele continuar dedicado ao trabalho autoral, desta vez o destino reserva-lhe algo bem melhor em um futuro muito próximo. Perguntado sobre mudar de estilo ele é enfático "quero conhecer os outros estilos apenas para fins culturais. Sempre serei fiel ao estilo herdado" afirma Sinval. A arte para ele despontou primeiramente na parte prática, mas resguardados os seus limites, existe um fio condutor muito forte em seu trabalho; a curiosidade das crianças em descobrir coisas novas, o fazer arte com expressão original. Assim é Sinval; e quando se lida com arte estamos tocando diretamente nos sentimentos. Portanto, qualquer criação fala por si só.

Gente boa e gente ruim
O seu novo trabalho mexeu não só com sua cabeça mas também com a cabeça daqueles que se diziam amigos; aqueles para quem prestava favores e pequenos serviços em troca de R$ 2,00 ou 3,00. Com o ocorrido ele deixou de beber naquele mesmo dia, e isso parece não ter deixado muito feliz alguns amigos e parceiros de rua. Em um passado muito recente ele precisou comprar um pincel então pediu R$ 5,00 emprestado para um deles e ouviu "se fosse para você tomar pinga eu daria mas para comprar pincel não dou". "Assim são quase todos os dias, sempre querem me desanimr", comenta Sinval. Buscou então, novos relacionamentos com comerciantes locais entre os quais faz questão de agradecer o senhor Sebastião - da casa de canetas Ravil-, que lhe proporcionou os primeiros pincéis, telas e tinta acrílica. Outro que também faz parte das boas lembranças de sua vida, é Everaldo Fontes, que viabilizou graciosamente o blog www.hploco.com/artesplasticassinval. Apesar de ter vivido vários anos na rua ele não perdeu sua sensibilidade e senso ético e ainda se surpreende com certos atos; pois já provou dos dissabores de ser ludibriado com falsos pedidos e por pessoas que encomendaram, retiraram o pedido mas alguns esquecem-se de pagar e outros somem com suas telas. Pergunta-se que tipo de pessoa dá calote em um morador de rua que precisa sobreviver visto que Sinval ainda mora em um Hotel Social?. Mas ele tira lições de vida desses fatos e fica feliz porque tem o reconhecimento de muitos dos transeuntes e de pessoas que torcem por seu sucesso amplamente nas artes, afinal, Sinval é muito popular na região do Vale do Anhangabaú.

Insegurança

São vários os pontos de inseguranças que pairam quanto ao que lhe espera pela frente. Porém, um dos pontos de maior insegurança é quanto ao seu trabalho. "Se eu ficar famoso e vendendo quadros caros, mesmo assim pintarei aqui no Vale do Anhangabaú", salienta. Com atelié ao ar livre, ou seja, na rua à céu aberto para que todos possam vê-lo trabalhar ele precisa mostrar os quadros para conseguir chamar atenção dos passantes. Mas, é o contrário disso, seus quadros ficam amontoados enquanto pinta um novo. Bem recente ele tentou colocá-los lado a lado em local isolado onde não atrapalha ninguém, foi advertido pela fiscalização. Isso deixou o pintor muito magoado que pensou em desistir. Tanto é verdade que Sinval deu as três telas que lá estavam à pessoas que nunca viu. Para ele, somente o talento ainda não resolve é preciso cuidados. Cuidados não só para ele mas para todos que são vítimas da ausência de políticas públicas, ausência de aplicação na educação e na cultura. Mesmo com toda insegurança ele ainda acredita: "Quando eu estava vindo para São Paulo pensei que ia achar um tesouro nessa cidade. Sempre que andava pelas suas ruas estava em busca de um tesouro. Ele veio. Não em forma de dinheiro ou ouro mas em forma de arte e conheciemento", finaliza Sinval.

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